sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Click ativismo

Eu já tinha falado disso em algumas outras postagens no blog. Revolucionários de sofá, preguiçosos. E, lendo mais sobre o assunto, vi que muitos blogs também estão discutindo esse "fenômeno" das redes sociais. Se pararmos para pensar direitinho, a vontade de ajudar os outros sem sair de casa vem ainda da época da internet discada e suas cartas correntes. Quem nunca recebeu um email, com centenas de outros contatos juntos, dizendo que determinada criança tinha uma doença e que o provedor de internet doaria uma quantidade para cada vez que o email fosse encaminhado?

Porém, quanto mais conectado virtualmente, mais esse ativismo de sofá se intensifica. De maneira geral, o slacktivismo (slacker+ativism = ativista preguiço) é a prática de curtir, compartilhar, retuitar assuntos relacionados a causas sociais. Seja divulgar um protesto, salvar animais na rua ou "apenas" criar a conscientização de outros internautas.

O assunto tem causado bastante controvérsia. Pouco tempo atrás presenciei um fato que me fez voltar a pensar no assunto. Existem vários grupos de proteção aos animais em Goiânia. Frequentemente são postadas fotos de cães abandonados, acidentados ou mal tratados. Os voluntários desses grupos e seus seguidores se mobilizam para resgatar esses animais, levando-os para clínicas veterinárias para serem tratados e, posteriormente, conseguem, através das redes sociais, um novo lar para os cachorros.

Em uma dessas postagens, uma pessoa encontrou um cachorro com as quatro patas quebrada, tirou uma foto do animal, foi até a casa dela e postou a foto no grupo, pedindo ajuda, falando que tinha feito a parte dela. Resultado: o animal não resistiu aos ferimentos e morreu. Muitos usuários criticaram a pessoa por ela não ter feito absolutamente nada. Se ela realmente é "amiga dos animais", tal como ela alega, teria agido de maneira mais efetiva, não apenas tirando uma foto e compartilhando no facebook.

Vejo pessoas compartilhando fotos e mais fotos de protestos políticos, apoio a greves, protejam os animais, revoltas sociais. Muitas delas não tem a mais remota noção dos verdadeiros motivos dos protestos, apenas compartilham, fazendo volume. Há também aquelas campanhas que divulgam informações erradas ou tendenciosas. Ao ajudar a "viralizar" essas campanhas, muitos erros podem ser cometidos também. Recentemente, uma foto de uma mãe apontando uma arma para sua filha começou a circular na rede. Foram incontáveis os xingamentos e compartilhamentos na referida foto. Porém, para a surpresa de todos, a foto era uma montagem. A foto originar era da mãe, com o dedo apontado para a filha, porém com um passarinho sobre esse dedo. Cadê as milhares pessoas que haviam xingado a mulher? Onde está o retratamento, postando a foto correta agora? Ops...

Por outro lado, um israelense, vendo todas as notícias de guerra e terror veiculadas na mídia sobre a relação de seu país com o Irã, fez uma montagem em uma foto, falando que amava e não temia a população do outro país, contradizendo a versão dos representantes políticos.

Em pouco tempo, vários conterrâneos fizeram o mesmo, veiculando mensagens nas redes sociais. Dias depois, iranianos começaram a postar as mesmas mensagens, falando que não temiam e não queria a guerra entre as duas nações.

A ação ganhou tamanha forma que foi parar nos meios tradicionais, virando matéria de jornais impressos e televisivos. Pode ser apenas um pequeno exemplo, mas é algo que ganhou força, ganhou repercussão mundial. Isso pode evitar a guerra? Nunca saberemos, mas foi uma ação efetiva de conscientização.

Utilizar twitter e facebook para mobilizar pessoas para passeatas, divulgar informações, também é um exemplo da utilização efetiva do ativismo na internet. O caso mais recente são as revoltas árabes, que culminaram com a queda de vários ditadores. Através das redes, a população pôde postar várias informações, além de fotos e vídeos, divulgando o outro lado da história, não apenas as "informações oficiais".

Não há como precisar se o ativismo online, ativismo de sofá, slacktivismo, click ativismo, seja lá como queira chamar, é um aspecto positivo ou negativo. Pode criar o comodismo em alguns, achando que basta clicar em "compartilhar" e fazer volume para mudar alguma coisa. Mas em muitos, cria a conscientização de alguns fatos não divulgados pelos veículos tradicionais de imprensa. Porém, a atitude ainda é o fator decisivo para que haja a transformação. Ler que um político é corrupto e não ter a atitude EFETIVA de cobrar de maneira correta, ver que um animal está mal tratado mas só tirar uma foto, ver pessoas na rua passando fome e não procurar os órgãos competentes ou até mesmo dar um agasalho, um prato de comida, não mudará nada, não importa quantos compartilhamentos tenha a postagem.

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