sábado, 25 de agosto de 2012

Vandativismo

Já que falei  sobre ativismo de sofá no último post, vamos continuar com o assunto, mas olhando uma vertente diferente, a de uma galera que sai da frente do PC para agir.

Muitos, quando criança, já pegaram santinhos de candidatos políticos para desenhar por cima, fazendo caricaturas ou criando personagens. Inocente, certo? Sim, mas, desde 2010, algumas pessoas utilizam essa brincadeira para protestar.

No último pleito para deputados, governador, senador e presidente, um grupo denominado Vandativismo percorreu algumas ruas de São Paulo atrás de publicidade política que infringissem a lei que define o que pode e o que não pode durante as campanhas. Ou seja: cavalete em praças e jardins? Proibido. Atrapalhando a passagem de pedestres ou pregados em árvores? Errado. Aí é que entra o grupo: publicidade irregular é vandalizada. Vale atear fogo, jogar fora e até desenhar por cima, pixando a foto dos candidatos e colocando o número da lei em vigor.



Outro grupo que começou a atuar também em 2010 foi o Sujo sua cara. A ideia é basicamente a mesma: pixar, desenhar, vandalizar os cartazes irregulares. Não demorou muito para a moda pegar. Pessoas em outros estados passaram a fazer o mesmo e mandar fotos e vídeos para os grupos. E está aberta a nova temporada de caça aos cartazes irregulares. É uma forma de dizer que não é possível confiar, tampouco levar a sério, políticos que não respeitam a lei.

Muitas vezes o candidato não tem consciência dos cartazes errados, já que são seus cabos eleitorais que colocam de maneira irregular. Mas é uma maneira de dizer aos políticos (e também aos seus cabos eleitorais) que estamos de olho neles, mesmo nas pequenas ações e antes de chegarem ao poder.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Click ativismo

Eu já tinha falado disso em algumas outras postagens no blog. Revolucionários de sofá, preguiçosos. E, lendo mais sobre o assunto, vi que muitos blogs também estão discutindo esse "fenômeno" das redes sociais. Se pararmos para pensar direitinho, a vontade de ajudar os outros sem sair de casa vem ainda da época da internet discada e suas cartas correntes. Quem nunca recebeu um email, com centenas de outros contatos juntos, dizendo que determinada criança tinha uma doença e que o provedor de internet doaria uma quantidade para cada vez que o email fosse encaminhado?

Porém, quanto mais conectado virtualmente, mais esse ativismo de sofá se intensifica. De maneira geral, o slacktivismo (slacker+ativism = ativista preguiço) é a prática de curtir, compartilhar, retuitar assuntos relacionados a causas sociais. Seja divulgar um protesto, salvar animais na rua ou "apenas" criar a conscientização de outros internautas.

O assunto tem causado bastante controvérsia. Pouco tempo atrás presenciei um fato que me fez voltar a pensar no assunto. Existem vários grupos de proteção aos animais em Goiânia. Frequentemente são postadas fotos de cães abandonados, acidentados ou mal tratados. Os voluntários desses grupos e seus seguidores se mobilizam para resgatar esses animais, levando-os para clínicas veterinárias para serem tratados e, posteriormente, conseguem, através das redes sociais, um novo lar para os cachorros.

Em uma dessas postagens, uma pessoa encontrou um cachorro com as quatro patas quebrada, tirou uma foto do animal, foi até a casa dela e postou a foto no grupo, pedindo ajuda, falando que tinha feito a parte dela. Resultado: o animal não resistiu aos ferimentos e morreu. Muitos usuários criticaram a pessoa por ela não ter feito absolutamente nada. Se ela realmente é "amiga dos animais", tal como ela alega, teria agido de maneira mais efetiva, não apenas tirando uma foto e compartilhando no facebook.

Vejo pessoas compartilhando fotos e mais fotos de protestos políticos, apoio a greves, protejam os animais, revoltas sociais. Muitas delas não tem a mais remota noção dos verdadeiros motivos dos protestos, apenas compartilham, fazendo volume. Há também aquelas campanhas que divulgam informações erradas ou tendenciosas. Ao ajudar a "viralizar" essas campanhas, muitos erros podem ser cometidos também. Recentemente, uma foto de uma mãe apontando uma arma para sua filha começou a circular na rede. Foram incontáveis os xingamentos e compartilhamentos na referida foto. Porém, para a surpresa de todos, a foto era uma montagem. A foto originar era da mãe, com o dedo apontado para a filha, porém com um passarinho sobre esse dedo. Cadê as milhares pessoas que haviam xingado a mulher? Onde está o retratamento, postando a foto correta agora? Ops...

Por outro lado, um israelense, vendo todas as notícias de guerra e terror veiculadas na mídia sobre a relação de seu país com o Irã, fez uma montagem em uma foto, falando que amava e não temia a população do outro país, contradizendo a versão dos representantes políticos.

Em pouco tempo, vários conterrâneos fizeram o mesmo, veiculando mensagens nas redes sociais. Dias depois, iranianos começaram a postar as mesmas mensagens, falando que não temiam e não queria a guerra entre as duas nações.

A ação ganhou tamanha forma que foi parar nos meios tradicionais, virando matéria de jornais impressos e televisivos. Pode ser apenas um pequeno exemplo, mas é algo que ganhou força, ganhou repercussão mundial. Isso pode evitar a guerra? Nunca saberemos, mas foi uma ação efetiva de conscientização.

Utilizar twitter e facebook para mobilizar pessoas para passeatas, divulgar informações, também é um exemplo da utilização efetiva do ativismo na internet. O caso mais recente são as revoltas árabes, que culminaram com a queda de vários ditadores. Através das redes, a população pôde postar várias informações, além de fotos e vídeos, divulgando o outro lado da história, não apenas as "informações oficiais".

Não há como precisar se o ativismo online, ativismo de sofá, slacktivismo, click ativismo, seja lá como queira chamar, é um aspecto positivo ou negativo. Pode criar o comodismo em alguns, achando que basta clicar em "compartilhar" e fazer volume para mudar alguma coisa. Mas em muitos, cria a conscientização de alguns fatos não divulgados pelos veículos tradicionais de imprensa. Porém, a atitude ainda é o fator decisivo para que haja a transformação. Ler que um político é corrupto e não ter a atitude EFETIVA de cobrar de maneira correta, ver que um animal está mal tratado mas só tirar uma foto, ver pessoas na rua passando fome e não procurar os órgãos competentes ou até mesmo dar um agasalho, um prato de comida, não mudará nada, não importa quantos compartilhamentos tenha a postagem.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Vergonha em terras alemãs

E o novaiorquino aponta para a lateral de um prédio de uns quatro andares e pergunta: "Aquele ali você conhece, certo?". Olhei para a grande figura humana de pele amarela pintada no edifício. Não fazia ideia do autor. "Mas você não é brasileiro? Como se diz 'The Twins' na sua lingua?", perguntou o norte americano diante do meu desconhecimento. "Os gêmeos?", respondi mais vacilante do que com certeza. "Sim, os brasileiros que saíram de lá e tem pinturas deles em várias cidades aqui na Europa", insistiu o novaiorquino que mora em Berlin há nove anos. Simplesmente assenti com a cabeça, com uma vergonha que não cabia em mim. Momentos antes, andando pelas ruas da capital alemã com o norte americano especialista em street art, eu havia reconhecido as obras de grandes nomes internacionais da arte de rua, tais como Banksy, Blu e El Bocho, mas não consegui reconhecer uma pintura dos artistas do meu próprio país.

Voltei para o hostel pensando no assunto. Eu conhecia artistas internacionais, mas não tinha a mais vaga noção do trabalho de grafiteiros do meu país, os quais era admirados e conceituados no exterior. Eu que era desinformado sobre alguns aspectos culturais do Brasil ou é o país, a cultura nacional que não valoriza devidamente seus artistas e intelectuais, sendo necessário que os mesmos conquistem fama em nações consideradas "desenvolvidas" para que sejam valorizados nas terras tupiniquins?

Já vi muitos exemplos de artistas nacionais que saíram do país, se aventuraram em metrópoles europeias e norte americanas para, só então, voltar ao Brasil e serem reconhecidos pela crítica e pelos cidadãos. Às vezes, não necessariamente para fazer sucesso, mas para conseguirem desenvolver suas potencialidades. Acredito que o Brasil não incentive a cultura tanto quanto deveria ou poderia, obrigando músicos, pintores, acadêmicos, atletas, a ganhar solos estrangeiros para alcançar o máximo de seus desempenhos. Lógico que não podemos generalizar, mas não podemos também descartar que tal realidade exista.

Quando retornei ao Brasil, fui pesquisar sobre as obras, a história, o estilo dos irmãos paulistas, criadores do homem de pele amarela, cabeça chata e longos dedos que habitava o muro de um prédio em Berlin. Não poderia continuar sem conhecer Os Gêmeos e suas sagas. No próprio site dos grafiteiros tem diversas imagens de seus trabalhos. Dentro do site dá pra ler um pouco da trajetória dos dois e ver que um detalhe reforça essa ideia que por tanto tempo martelou minha mente: "Apenas depois de um ano, já com um nome forte no exterios, Os Gêmeos fizeram sua primeira exposição no Brasil, na Galeria Fortes Vilaça, em São Paulo".



Temos que parar de dar mais valor ao que vem de fora, achando que apenas "os gringos" sabem produzir coisas de qualidade. Não entenda isso como um discurso bairrista, regionalista. Não é para fechar as portas para os aspectos internacionais, mas que possamos olhar com maior cuidado, com maior atenção para o que nós produzimos. Garanto que muitas vezes nos surpreenderíamos.

Esse sou eu, novamente com minhas divagações, minhas opiniões, voltando a escrever nesse despretensioso blog.