domingo, 21 de fevereiro de 2010

Todos tem o seu preço?

Já diz o ditado: Todo mundo tem um preço. E aí, será que é verdade? Tem um pessoal que pensa: Não, nem todo o dinheiro do mundo faz eu cometer determinada ação! Mas quem foi que falou em dinheiro? O dinheiro compra muita gente? Claro, não estou falando o contrário, mas há pessoas que não são tentadas pelo dinheiro. Porém a moeda não é sempre só o dinheiro. Todos possuem segredos, fobias, pontos fracos. Basta achá-los e terá a moeda de troca irrecusável. E você se pergunta: Então você acha que todo mundo tem um preço? Até você? Claro! Todos nos vendemos em algum determinado momento. Se, nesse momento, você está dizendo que não, é porque nunca te fizeram uma oferta ou então não acharam a moeda exata. Por que estou falando tudo isso? Novamente um filme. Quer coisa melhor pra ter novas idéia/opiniões/visões, seja lá o que for? Todo mundo sabe que baixo muitos filmes, de todos os estilos, de todos os países. A bola da vez é o tailandês 13 game sayawng.



O PARAGRAFO ABAIXO POSSUE PEQUENA DOSE DE SPOILER

O filme brinca com essa história de que todos tem um preço e também até onde as pessoas vão, do que elas são capazes. Todo mundo se liga nessa temática do filme, mas o que poucos prestão atenção é que tudo não passa de uma espécie de reality show. Ou seja, o filme brinca com a cumplicidade das pessoas que veem as outras "se vendendo" ou se degladiando, mas não fazem nada a não ser sentirem o prazer voyerista. Em várias cenas do filme podemos ver a inação humana. Novamente eu repito: filmes não são mera diversão. Revelam às pessoas, realidades e costumes que poucos se dão conta. Talvez passem a refletir após se identificarem com o filme. Talvez continuem pensando que tudo só acontece em filmes, que elas jamais ficariam vendo os outros confinados, fazendo coisas que são programadas pelos que assistem.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Quem paga mais, leva....

Nos últimos tempos a televisão aberta virou um grande campo de batalha. Cada emissora um exército; cada programa um arma; cada ponto no Ibop um soldado inimigo morto. As vitórias são divulgadas massissamente aos quatro cantos. Quem tem o melhor jornal? E o programa esportivo de maior audiência? Cada uma tentando conseguir exclusividade na transmissão dos jogos olímpicos de inverno, copa do mundo, olimpíadas, jogos panamericanos e por aí vai. A briga pelos filmes também é bem acirrada. Quem pega o melhor blockbuster não é nem visando o interesse do telespectador. Longe disso. É para tentar garantir uma maior audiência e também para não deixar o concorrente pegar. O interesse/gosto do público fica em terceiro lugar. Até os reality shows entraram nessa guerra.Agora a onda é brigar pra ver quem passa a melhor série de tv. Globo comprando Lost, 24 horas e Prision Break; Record já exibiu Heroes e agora as três versões de CSI, House e Monkey. Até a Band está entrando na onda, com o The Unit. Porém, a grande campeã de exibição de séries é o SBT. A lista é grande: Cold Case, Supernatural, Gossipgirl, Without a Trace, Eleventh hour, SmallVile, Estética... com certeza estou esquecendo algum, pois são tantos. Cada emissora querendo ganhar mais espaço, um público maior. Confesso que eu gosto dessa onda de seriados. Não sou um viciado, daquele que não perde nenhum episódio, mas gosto bastante de alguns. Os de investigação, sejam médicos ou policiais são meus preferidos.
Outra coisa que deu pra perceber é que as emissoras pararam de ver quem conseguia maior audiência exibindo o mesmo gênero. Com excessão dos jornais, as telenovelas, realitys shows e seriados não chocam mais os horários. Isso não é uma regra, mas se parar pra dar uma analisada, é meio que um costume que está sendo adotado. No SBT passa jornal, na Band um de variedades, na Record um seriado policial e na globo, novela. Creio que quem sai ganhando é o telespectador, pois pode "escolher com maior liberdade" o que quer assistir. Vamos ver para onde vai se encaminhar a Tv brasileira daqui em diante.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Tapete Vermelho

Filmes não são meros objetos de diversão ou distração. Sempre querem dizer algo mais do que a história linear. Não me entendam mal quando falo isso. Não estou querendo dizer que todo filme tem uma mensagem subliminar, ou algo altamente filosófico e mirabolante. Alguns até possuem, mas não é sobre isso que quero falar. Indo direto ao ponto hoje vou falar do filme "Tapete Vermelho" e vou usá-lo como exemplo do que quero dizer. O longa mostra Quinzinho tentando realizar a promessa de levar seu filho a um cinema para assistir ao filme do Mazzaropi. Como toda obra, há inumeras dificuldades até chegar-se ao êxito. E são essas dificuldades que mostram esse algo a mais que o filme quer passar. Mostrar alguns aspectos da realidade que muitas vezes estão na nossa frente e fingimos não ver, ou consideramos como só uma ceninha rápida de um filme. O sincretismo e as crenças religiosas, a situação dos sem-terras, os "superiores" sempre menosprezando os "inferiores", meninos de rua, dificuldade no acesso a bens culturais. Tudo isso faz parte do nosso cotidiano, mas encaramos apenas como uma cena rápida, sem importância para a história principal.




Deixando um pouco de lado essa divagação, falemos agora do longa metragem. A história se desenrola de maneira bem leve, com situações engraçadas, outras um pouco improváveis, mas de maneira cativante. As atuações são boas, revivendo o estilo dos filmes de Mazzaropi, retomando o estereótipo do "Jeca Tatu". Dá-se muita atenção a determinadas coisas, enquanto outras poderiam ter sido mais trabalhadas. Porém nada que desmereça a produção e faça o filme deixar de ser visto. Fica aí mais uma divagação sobre cinema, quem quiser dar algum crédito a esse escritor que mais viaja do que fala algo com sentido, fica aí a dica.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Estranhamento do comum

Muitas vezes olhamos para o outro, para a cultura do outro como sendo estranha, bárbara, involuida. Mas quem somos nós pra julgar algo? Esse post aqui são pra contar duas histórias. A primeira delas é a do homem que resolveu viajar para um tribo indígena para estudar mais a cultura daquele povo. Sempre fora um profundo adimirador dos índios. Chegando na aldeia, conheceu os ritos e tradições. Achou muitas coisa estranhas. Ao final, entrou em uma oca e percebeu que nela haviam pendurados talheres, como se fossem ornamentos. Achou que aquilo era puro desconhecimento da cultura do branco. Pobres índios, não saber que aquilo era usado para comer.... Ao chegar em casa teve uma surpresa: entrou em sua sala e deparou-se com um arco e flecha pendurados na parede de sua sala, ornamentando o ambiente. Deu um sorriso, sentindo-se envergonhado. Havia aprendido a maior de todas as lições.


A outra história é um texto escrito por Horace Miner. Ele tem mais ou menos o mesmo sentido da historinha acima. No final, tudo se resume ao fato de não sermos ninguém para julgar as cultutras e tradições dos outros.


Texto na íntegra


[...]Trata-se de um grupo norte-americano que vive no território entre os Cree do Canadá, os Yaqui e os Tarahumare do México, e os Carib e Arawak das Antilhas. Pouco se sabe sobre sua origem, embora a tradição relate que vieram do leste. Conforme a mitologia dos Nacirema, um herói cultural, Notgnihsaw, deu origem à sua nação; ele é, por outro lado, conhecido por duas façanhas de força: ter atirado um colar de conchas, usado pelos Nacirema como dinheiro, através do rio Po- To- Mac e ter derrubado uma cerejeira na qual residiria o Espírito da Verdade.

A cultura Nacirema caracteriza-se por uma economia de mercado altamente desenvolvida, que evolui em um rico habitat. Apesar do povo dedicar muito do seu tempo às atividades econômicas, uma grande parte dos frutos deste trabalho e uma considerável porção do dia são dispensados em atividades rituais. O foco destas atividades é o corpo humano, cuja aparência e saúde surgem como o interesse dominante no ethos deste povo. Embora tal tipo de interesse não seja, por certo, raro, seus aspectos cerimoniais e a filosofia a eles associadas são singulares.

A crença fundamental subjacente a todo o sistema parece ser a de que o corpo humano é repugnante e que sua tendência natural é para a debilidade e a doença. Encarcerado em tal corpo, a única esperança do homem é desviar estas características através do uso das poderosas influências do ritual e do cerimonial. Cada moradia tem um ou mais santuários devotados a este propósito. Os indivíduos mais poderosos desta sociedade têm muitos santuários em suas casas e, de fato, a alusão à opulência de uma casa, muito freqüentemente, é feita em termos do número de tais centros rituais que possua. Muitas casas são construções de madeira, toscamente pintadas, mas as câmeras de culto das mais ricas têm paredes de pedra. As famílias mais pobres imitam as ricas, aplicando placas de cerâmica às paredes de seu santuário.

Embora cada família tenha pelo menos um de tais santuários, os rituais a eles associados não são cerimônias familiares, mas sim cerimônias privadas e secretas. Os ritos, normalmente, são discutidos apenas com as crianças e, neste caso, somente durante o período em que estão sendo iniciadas em seus mistérios. Eu pude, contudo, estabelecer contato suficiente com os nativos para examinar estes santuários e obter descrições dos rituais.

O ponto focal do santuário é uma caixa ou cofre embutido na parede. Neste cofre são guardados os inúmeros encantamentos e poções mágicas sem os quais nenhum nativo acredita que poderia viver. Tais preparados são conseguidos através de uma serie de profissionais especializados, os mais poderosos dos quais são os médicos-feiticeiros, cujo auxilio deve ser recompensado com dádivas substanciais. Contudo, os médicos-feiticeiros não fornecem a seus clientes as poções de cura; somente decidem quais devem ser seus ingredientes e então os escrevem em sua linguagem antiga e secreta. Esta escrita é entendida apenas pelos médicos-feiticeiros e pelos ervatários, os quais, em troca de outra dadiva, providenciam o encantamento necessário. Os Nacirema não se desfazem do encantamento após seu uso, mas os colocam na caixa-de-encantamento do santuário doméstico. Como tais substâncias mágicas são especificas para certas doenças e as doenças do povo, reais ou imaginárias, são muitas, a caixa-de-encantamentos está geralmente a ponto de transbordar. Os pacotes mágicos são tão numerosos que as pessoas esquecem quais são suas finalidades e temem usá-los de novo. Embora os nativos sejam muito vagos quanto a este aspecto, só podemos concluir que aquilo que os leva a conservar todas as velhas substâncias é a idéia de que sua presença na caixa-de-encantamentos, em frente à qual são efetuados os ritos corporais, irá, de alguma forma, proteger o adorador.

[...]

Foi a estas tendências que o Prof. Linton (1936) se referiu na discussão de uma parte específica dos ritos corporal que é desempenhada apenas por homens. Esta parte do rito envolve raspar e lacerar a superfície da face com um instrumento afiado. Ritos especificamente femininos têm lugar apenas quatro vezes durante cada mês lunar, mas o que lhes falta em freqüência é compensado em barbaridade. Como parte desta cerimônia, as mulheres ousam colocar suas cabeças em pequenos fornos por cerca de uma hora. O aspecto teoricamente interessante é que um povo que parece ser preponderantemente masoquista tenha desenvolvido especialistas sádicos.

Os médicos-feiticeiros têm um templo imponente, ou latipsoh, em cada comunidade de certo porte. As cerimônias mais elaboradas, necessárias para tratar de pacientes muito doentes, só podem ser executadas neste templo. [...]

As cerimonias latipsoh são tão cruéis que é de surpreender que uma boa proporção de nativos realmente doentes que entram no templo se recuperem. Sabe-se que as crianças pequenas, cuja doutrinação ainda é incompleta, resistem às tentativas de levá-las ao templo, porque "é lá que se vai para morrer". Apesar disto, adultos doentes não apenas querem, mas anseiam por sofrer os prolongados rituais de purificação, quando possuem recursos para tanto. Não importa quão doente esteja o suplicante ou quão grave seja a emergência, os guardiões de muitos templos não admitirão um cliente se ele não puder dar uma dádiva valiosa [...].

Poucos suplicantes no templo estão suficientemente bons para fazer qualquer coisa além de jazer em duros leitos. As cerimônias diárias, como os ritos do sacerdote-da-boca, envolvem desconforto e tortura. [...]
De tempos em tempos o médico-feiticeiro vem ver seus clientes e espeta agulhas magicamente tratadas em sua carne. O fato de que estas cerimônias do templo possam não curar, e possam mesmo matar o neófito, não diminui de modo algum a fé das pessoas no médico feiticeiro.


Como conclusão, deve-se fazer referência a certas práticas que têm suas bases na estética nativa, mas que decorrem da aversão profunda ao corpo natural e suas funções. Existem jejuns rituais para tornar magras pessoas gordas, e banquetes cerimoniais para tornar gordas pessoas magras. Outros ritos são usados para tornar maiores os seios das mulheres que os têm pequenos e torná-los menores quando são grandes. A insatisfação geral com o tamanho do seio é simbolizada no fato de a forma ideal estar virtualmente além da escala de variação humana. Umas poucas mulheres, dotadas de um desenvolvimento hipermamário quase inumano, são tão idolatradas que podem levar uma boa vida simplesmente indo de cidade em cidade e permitindo aos embasbacados nativos, em troca de uma taxa, contemplarem-nos.

[...]

Nossa análise da vida ritual dos Nacirema certamente demonstrou ser este povo dominado pela crença na magia. É difícil compreender como tal povo conseguiu sobreviver por tão longo tempo sob a carga que impôs sobre si mesmo. Mas até costumes tão exóticos quanto estes aqui descritos ganham seu real significado quando são encarados sob o ângulo relevado por Malinowski, quando escreveu:

"Olhando de longe e de cima de nossos altos postos de segurança na civilização desenvolvida, é fácil perceber toda a crueza e irrelevância da magia. Mas sem seu poder de orientação, o homem primitivo não poderia ter dominado, como o fêz, suas dificuldades práticas, nem poderia ter avançado aos estágios mais altos da civilização"


(nota: para quem não percebeu, Nacirema é American, de trás para frente)